Acesso à informação é o básico. Mas, para transformar a Experiência em Saúde, precisamos de algo muito maior: garantir que o paciente não apenas receba informação, mas que realmente as compreenda, se engaje e assuma o protagonismo do próprio cuidado.
A pergunta que não quer calar: Seus pacientes entendem o que você diz?
Pense por um momento: se a sua Instituição fosse avaliada hoje apenas pela clareza e acessibilidade das informações que entrega aos pacientes e familiares, qual seria a nota?

A resposta, honestamente, pode ser mais dura do que imaginamos. Um estudo recente da Economist Impact (2024) trouxe um dado que incomoda: menos de 30% das pessoas no mundo se sentem realmente bem informadas sobre saúde. E quando o assunto é saúde mental, rastreios preventivos ou uso de substâncias, esses números despencam.
Fonte: https://impact.economist.com/projects/health-inclusivity-index/documents/Health_inclusivity_index_removing_barriers_through_health_literacy.pdf
Não estamos apenas diante de uma barreira de acesso. Estamos em meio a uma crise de compreensão.
O que é Letramento em Saúde e por que ele é importante?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define Letramento em Saúde como a capacidade de “acessar, compreender e usar informações de saúde para promover e manter a boa saúde”.
O relatório da Economist Impact, apoiado pela Haleon, analisou 40 países e foi claro: baixos níveis de letramento não são só um problema de saúde, mas um desafio global que resulta em desfechos clínicos piores e custos sociais altíssimos.
Pessoas com maior letramento em saúde:
✔ Procuram cuidado preventivo com mais frequência
✔ Participam ativamente das decisões de saúde
✔ Têm menos reinternações e maior adesão ao tratamento
✔ Confiam mais nos profissionais e no sistema
Principais Destaques Globais
Estes são os pontos de maior relevância que o estudo aponta em escala mundial:
– Acesso Limitado à Informação: Menos de uma em cada três pessoas (29%) sente que tem acesso adequado a informações sobre tópicos de saúde importantes. As maiores lacunas de informação estão nas áreas de uso de álcool, tabaco e drogas (24%), saúde mental (23%) e exames preventivos (22%).
– Disparidade entre Política e Prática: Há uma grande diferença (36 pontos) entre as políticas de Letramento em Saúde que existem no papel e a experiência vivida pelas pessoas, indicando que os esforços não estão chegando à população de forma eficaz.
– O Impacto do “Abismo Digital”: O acesso à internet é um “super determinante social da Saúde”. Indivíduos com acesso diário à internet têm, em média, 13 pontos percentuais a mais de probabilidade de sentir que têm acesso a informações de Saúde úteis e confiáveis.
– Diferenças Geracionais nas Fontes de Informação:
- As gerações mais jovens, como a Geração Z, estão recorrendo massivamente às redes sociais. Quase metade (44%) dos entrevistados da Geração Z usa as redes sociais para obter informações de Saúde.
- Um dado alarmante é que 17% da Geração Z e 14% dos Millennials confiam nas redes sociais para obter informações de Saúde, mas não em seus médicos. Isso expõe esses grupos a um risco muito maior de desinformação.
– Empoderamento do Paciente: O acesso a informações confiáveis, especialmente de profissionais de Saúde, está diretamente ligado ao empoderamento do paciente. 67% das pessoas que confiam em seus médicos se sentem capacitadas para tomar decisões compartilhadas sobre sua saúde, em comparação com apenas 44% daquelas que não confiam.

O paradoxo brasileiro: conectados, mas ainda desinformados
O relatório dedica um olhar especial ao Brasil, comparando a realidade de áreas urbanas (pesquisa digital) e rurais (pesquisa presencial). As descobertas são extremamente relevantes para o contexto nacional:
- Fontes de Confiança: A Força da Comunidade no Brasil Rural
A diferença mais importante não é o acesso à tecnologia, mas a fonte da crença. Moradores rurais confiam, de longe, mais em fontes humanas e comunitárias.
- Eles são 18% mais propensos a citar o médico como fonte confiável.
- E impressionantes 23% mais propensos a confiar nos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) do que os moradores de cidades grandes.
- O público urbano, por outro lado, usa mais sites e fontes online, o que o torna um alvo mais fácil para a desinformação das redes sociais.
Aqui está o paradoxo: a diferença no acesso à internet entre as áreas urbanas (95%) e rurais (83%) foi de apenas 12 pontos. A conclusão? A preferência do morador rural por profissionais locais não é por falta de internet, mas por uma confiança profunda nas redes de apoio comunitárias.
Implicações para a Saúde no Brasil:
Esses dados reforçam a importância estratégica do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente da Estratégia Saúde da Família e do trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que são a ponte de confiança e informação para milhões de brasileiros em áreas remotas.
Para a Comunicação em Saúde no Brasil, uma abordagem “única”, não funciona. Precisamos combater a desinformação digital nas capitais e, ao mesmo tempo, investir no fortalecimento do vínculo humano e na capacitação dos profissionais que estão na linha de frente.
Informação não é cuidado. Mas sem informação, o cuidado falha.
A Experiência do Paciente, aquela que nos faz sentir cuidados de verdade, começa muito antes de a gente se sentar na maca.
- Um profissional que explica algo de forma clara não está apenas informando, ele está construindo confiança.
- Um paciente que compreende o seu caminho não é um peso, é um parceiro ativo que adere melhor e tem desfechos clínicos superiores.
- Uma equipe que investe em como se comunica, está investindo em conexão e no futuro do cuidado.
Na ConectaExp, temos visto isso na prática em Instituições públicas e privadas de todo o país. Quando as equipes desenvolvem habilidades humanas e de comunicação, a jornada de cuidado muda para todos os envolvidos.
Como transformar o cenário?
O relatório propõe 4 caminhos.
- Conteúdo que Educa e Diverte (Edutainment)
Nem tudo precisa ser formal e impresso. Usar vídeos curtos, podcasts, e-mails diretos ou histórias reais nas redes.
A ConectaExp aposta nessa abordagem, histórias que tocam, com base técnica sólida. É o que inspira projetos como o podcast “Histórias que Conectam”.
- Valorizar as redes comunitárias
Em áreas aonde a internet não chega ou não é usada, quem faz a diferença são os profissionais de campo: enfermeiros, agentes comunitários, lideranças locais.
É hora de reconhecer e investir na capacitação em Human Skills desses profissionais da Atenção Primária.
- Investir em Comunicação acessível e Centrada na Pessoa
Formulários difíceis, termos técnicos e pouca escuta só aumentam a desinformação.
Comunicação clara e assertiva auxilia as equipes a se conectarem de verdade com quem cuidam, promovendo vínculo, clareza e empatia.
- Ensinar a pensar criticamente sobre o que se lê e escuta
Hoje, todos buscam informação. O desafio é: como saber o que é confiável? Ensinar pensamento crítico é parte do cuidado.
Capacitações sobre comunicação digital responsável e letramento digital também fazem parte de programas que podem ser oferecidos pelas Instituições que integram o Ecossistema de Saúde brasileiro.
O futuro da Experiência do Paciente passa pelo Letramento em Saúde
Experiência não é só sobre ser bem tratado. É sobre ser compreendido, sentir-se capaz e participar ativamente do cuidado.
Promover Letramento em Saúde é promover equidade, empoderamento e sustentabilidade para os sistemas de saúde.
E se sua Instituição fosse lembrada por ser um lugar onde todos entendem o que está acontecendo com sua Saúde?
E se o cuidado começasse com uma escuta, seguisse com uma explicação clara, e fosse guiado por decisões compartilhadas?
Investir em Letramento em Saúde não é luxo. É estratégia, é cuidado, é respeito.
Na ConectaExp, acreditamos que Comunicar é cuidar.
E cuidar bem é ensinar, empoderar e, acima de tudo, transformar.